CRIPTORQUIDISMO EM CÃES
Criptorquidismo
(do grego: testículo escondido) é uma alteração
reprodutiva de machos, caracterizada pela ausência do deslocamento de um ou de
ambos os testículos da cavidade abdominal para o escroto. Criptorquidismo
unilateral é o termo correto para se definir a ausência de um único testículo
no escroto e criptorquidismo bilateral refere-se à ausência de ambos. O
testículo pode estar retido no tecido subcutâneo da área pré-escrotal, no
abdome ou na área do anel inguinal.
Nos cães, a formação do tubérculo urogenital no feto se dá ao redor de 24 dias
de idade gestacional, a formação dos testículos com 29 dias e o início da fase
de migração transabdominal aos 42 dias. A fase de migração inguino-escrotal se
inicia ao redor de 4 a 5 dias após o nascimento.
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O
processo de descida testicular deve completar-se até os seis meses de idade,
quando, na maioria dos cães, o anel inguinal se fecha. Porém, os testículos
podem ser palpáveis no interior do escroto em períodos que variam de 10 a 42
dias de idade.
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Criptorquidismo
é uma afecção causada por fatores genéticos mas tem componentes endócrinos e
extrínsecos. Existe um envolvimento considerável de fatores genéticos em
doenças relacionadas anomalias do cromossomo X, entre elas o aparecimento de
criptorquidis-mo. Outros defeitos congênitos parecem estar associados ao
criptorqui-dismo incluindo hérnia inguinal, displasia coxofemoral, luxação de
patela e defeitos do pênis e prepúcio. Por conceito, o criptorquidismo é uma
doença hereditária autossômica, ligada ao sexo. Portanto, embora somente os
machos manifestem os sintomas, as fêmeas podem ser portadoras do gene
responsável. Acredita-se que a doença seja poligênica.
Existem vários sintomas associados ao criptorquidismo, variando de acordo com a
idade e a localização do testículo, tais como: esterilidade, distúrbios de
comportamento, aumento de sensibilidade local, dermatopatias, alterações
neoplásicas dos testículos, entre outros.
Quando
o criptorquidismo for bilateral o animal será estéril. Entretanto, nos casos de
criptorquidismo unilateral o testículo em posição escrotal terá espermatogênese
normal, sendo comum a oligospermia.
O
cão criptorquídico pode apresentar modificações de comportamento como:
hipersexualidade, excitabilidade, irritabilidade e tendência à agressividade.
Ainda, as neoplasias em testículos ectópicos podem acentuar sobremaneira esta
alteração comportamental, além da diminuição da fertilidade, do alto risco de
torção do cordão espermático e todas as complicações clínicas e cirúrgicas pela
presença do tumor.
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O
exame ultra-sonográfico pode ser de grande valia, pois permite identificar o
testículo ectópico bem como alterações morfológicas do mesmo. É preciso
ressaltar que a conduta expectante até o sexto mês de idade do animal é
recomendada, antes de se estabelecer o diagnóstico definitivo.
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O
diagnóstico deve ser feito através de inspeção visual e palpação cuidadosa do
escroto. Entretanto, a gordura escrotal em excesso e os linfonodos inguinais
podem ser confundidos com testículo ectópico. O testículo retido é menor em
tamanho e peso (caso não haja neoplasia) em relação ao que está localizado no
escroto.
O tratamento para o criptorquidismo pode ser medicamentoso ou cirúrgico. A
escolha da melhor conduta a ser realizada depende da idade do animal e da
sintomatologia envolvida. Por ser uma afecção comprovadamente hereditária, o
tratamento medicamentoso único corresponde a uma conduta questionável do ponto
de vista ético. Porém, para cães jovens (até 16 semanas) que apresentam a
ectopia testicular de difícil acesso cirúrgico, pode-se optar por tratamento
medicamentoso inicialmente, no sentido de promover a descida testicular
artificialmente para em um segundo momento proceder-se a terapia cirúrgica.
O tratamento medicamentoso pode ser realizado com o hormônio liberador de
gonadotrofina (GnRH) ou drogas que tenham ação semelhante ao hormônio
luteinizante, como por exemplo, a gonadotrofina coriônica humana. A terapia de
escolha para o criptorquidismo é orquiectomia bilateral, por reduzir as chances
do desenvolvimento de neoplasias testiculares e a possibilidade de transmissão
genética do problema. Dentre as possibilidades de correção cirúrgica, pode-se
realizar a orquiopexia ou reposição do testículo ectópico, entretanto essas são
condutas que não interrompem a descendência genética da afecção, desta forma
não recomendável.
O prognóstico para a vida do animal é excelente quando o tratamento é realizado
de forma a evitar o comprometimento neoplásico do testículo ectópico. Em
contrapartida, o prognóstico para a vida reprodutiva é ruim.
Conclusão
O criptorquidismo é uma afecção bastante comum na clínica de pequenos animais.
Porém, o desafio maior em relação a este problema é o estabelecimento de formas
de controle e propagação do defeito em famílias e populações de cães. O
controle definitivo do criptorquidismo só é possível por meio de melhoramento e
aconselhamento genético conscientes. Para este fim, conhecimento acerca das
características do problema são fundamentais. Por exemplo, sabendo-se tratar de
uma afecção hereditária, o tratamento cirúrgico definitivo é o de eleição.
Ainda, por ser uma alteração autossômica, ligada ao sexo, a transmissão do
defeito genético pode ocorrer tanto através do macho como da fêmea. Portanto, a
matriz e o reprodutor dos quais o cruzamento resultou em filhotes criptorquídicos,
devem ser afastados da reprodução.